Uma empresa é um bem

Matheus Bazzo
3 min readApr 22, 2024

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Esse texto faz parte de uma série de reflexões publicadas nos Estudos Estéticos, minha newsletter semanal. Algumas expressões podem fazer referência aos e-mails semanais ao longo do texto.

Um dos sinais mais claros de uma imaginação viciada é quando substantivos são automaticamente adjetivados sem passar por um julgamento neutro e racional. É o caso, por exemplo, da ideia de empresa ou de empresário. Vivemos em um ambiente cultural tão marcado pela cosmovisão marxista que concepções de negócios e empresas sejam apreendidas sob a ótica da exploração capitalista — essa supostamente sendo a grande responsável por todas as maldades e injustiça na história da humanidade. Esse vício faz com que toda ideia de crescimento empresarial venha adornada por uma aura de desconfiança e suspeita. Engana-se quem pensa que essa desconfiança nasce apenas no ouvinte alheio ao empreendimento empresarial. É uma ideia tão arraigada em nossa cultura que muitas vezes o próprio empresário desconfia de si mesmo em seus projetos de expansão fazendo com que lhe falte a tenacidade e a inventividade para avançar com seus negócios por parecer excessivamente ganancioso para seus familiares, amigos ou empregados.

Esse vício imaginativo é a causa de muitos atrasos no crescimento de empresas e negócios — e, portanto, atraso também no desenvolvimento de serviços e produtos para a sociedade. Por manterem as concepções marxistas como pano de fundo, tanto o empresário quanto seus colaboradores e parceiros não acreditam de fato que estão fazendo um bem social ao investirem no crescimento de seus negócios. É por isso que o primeiro pilar para a construção de um negócio duradouro é compreender que uma empresa é um bem.

Uma empresa é um bem por diversos motivos. São eles:

1 — Empresas produzem produtos e serviços que são um bem na medida em que contribuem — em graus diferentes — para seus consumidores. Uma empresa necessariamente precisa produzir algum tipo de bem para ser sustentável — pelo menos no longo prazo. Isso faz com que a mera existência da empresa como geradora de bens seja, por sua vez, um bem. Além disso, no ato mesmo de criar produtos e serviços, a empresa estimula a atitude criativa de seu líder e colaboradores. A ação criativa é um ato que nos identifica como seres humanos (falaremos mais sobre isso futuramente quando desenvolvermos os outros pilares de um negócio duradouro)

2 — Empresas geram trabalho para seus colaboradores e o trabalho é outro elemento que nos dignifica como seres humanos. Diferente dos animais, o homem é capaz de trabalhar criativamente. O ato do trabalho é algo próprio do homem, de maneira que trabalhar nos torna mais humanos. Essa compreensão está prefigurada nas Escrituras quando em Gênesis apresenta-se Deus criando o homem, do latim, ut operatur — ou seja, para trabalhar. Ao contrário do que comumente se pensa em algumas correntes cristãs, o trabalho não é um castigo imposto pela queda do pecado original. É o oposto: o trabalho é um dos elementos para os quais Deus criou o homem. O trabalho nos constitui, nos dignifica e — por que não? — nos santifica. Uma empresa, na medida em que gera emprego, gera também novas oportunidades do homem ser mais digno de si.

3 — Além do benefício espiritual e antropológico gerado pelo trabalho, uma empresa é um bem também porque esse mesmo trabalho gera renda para o colaborador. Essa renda é total ou parcialmente responsável pelo sustento daquele indivíduo e muitas vezes de famílias inteiras. Quando negócios crescem, aumenta-se a quantidade e a qualidade dessa renda fazendo criando ainda mais sustento para seus times.

4 — Para prosperar e crescer, empresas precisam agir através da coletividade. Esqueça a ideia de empresa de um homem só e todas essas concepções de “trabalhe apenas quatro horas por dia e enriqueça”. O valor de um negócio consiste justamente na sua capacidade de gerar projetos em coletividade. O trabalho em equipe é outro marco da nossa humanidade. Empresas geram a possibilidade do ser humano gerar relacionamento em um processo criativo de bens. Esse trabalho criativo e coletivo é um sinal da harmonia que somente o homem pode articular no mundo.

5 — A concorrência entre empresas, quando realizada de maneira moral e íntegra, é um grande motor de inovação para a sociedade. Essa inovação produz soluções novas para o mundo e leva o homem a novos patamares de desenvolvimento econômico e social.

É por esses motivos que toda empresa tem o dever de crescer. A expansão dos negócios implica na expansão de bens no mundo. Todos aqueles vocacionados ao empreendedorismo precisam ter consciência de que o primeiro bem que uma empresa produz é ela mesma. Sua sustentação e crescimento atraem novos bens que se multiplicam e favorecem toda a sociedade.

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Matheus Bazzo

Empreendo, escrevo e registro em fotos | Co-founder: @lumine.tv /@minhabibliotecacatolica / @peregrinoapp