A atenção é a substância da vida.

Matheus Bazzo
4 min readApr 22, 2024

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Esse texto faz parte de uma série de reflexões publicadas nos Estudos Estéticos, minha newsletter semanal. Algumas expressões podem fazer referência aos e-mails semanais ao longo do texto.

Quem quer que tenha feito uma grande viagem, sabe o que é voltar com a sensação de ter vivido muitas vidas em poucos dias. Parece que o tempo passou mais devagar e naqueles poucos dias de viagem é como se tivéssemos vivido muitos meses. Isso acontece porque quando estamos viajando ficamos mais atentos às novidades e belezas que nos circundam. Quando viajamos, todos os detalhes chamam nossa atenção. E essa atitude de constante atenção faz com que tenhamos a sensação de que há mais vida em nossos dias. Isso porque a atenção é a substância da vida. Esse é precisamente o terceiro pilar para a construção de um negócio duradouro.

A atenção é a consciência de nossas ações e do nosso ambiente. Implica que a desatenção faz-nos inconscientes de nós mesmos. Toda vez que estamos dispersos é como se não estivéssemos cientes do que estamos vivendo. A desatenção é, portanto, uma desconexão com a vida. Na era dos smartphones e redes sociais, essa desatenção nos custa caro. A cada instante somos convocados a fugir do instante. Esse processo é tão perigoso que a própria Igreja tem insistido na necessidade da procura da vida heróica na vida cotidiana. A mística católica parece apontar cada vez mais na direção do encontro de uma espiritualidade do instante. Uma mística do instante, como inclusive é nomeado o belo livro de espiritualidade do teólogo e cardeal Dom José Tolentino — uma das principais figuras na teologia contemporânea.

A preocupação com o instante e com a atenção é a tônica do nosso tempo. Isso porque a desatenção nos afasta da realidade. Sem viver a realidade da vida, estamos apartados dos nossos verdadeiros dramas e dos nossos problemas mais fundamentais. É impossível construir qualquer solução relevante para nossas comunidades se estivermos apartados dos problemas fundamentais. Experimente pedir um favor a um adolescente desatento com os olhares fixos em seu celular. Sua apreensão do pedido será tão precária que provavelmente a execução do favor será um novo desfavor tão boçal que seria não o ter realizado de maneira nenhuma. O tal adolescente foi incapaz de captar a realidade do favor solicitado.

Apartados da realidade da vida, será impossível que nossos empreendimentos criem soluções reais. Sem atenção somos ineficazes em tudo.

O contrário é ainda mais evidente. Lembro que, em certo momento da nossa empresa, um dos nossos gestores falou uma frase que chamou minha atenção: “O engajamento diminui custos”. Evidente, pois a atenção engajada permite a realização de um trabalho focado que diminui o custo de tempo e o custo material também. A atenção gera muitos outros frutos positivos: trabalhos em paz por estarmos cientes, nossas resoluções são mais efetivas, as soluções surgem mais rápido, etc. Uma pessoa atenta beneficia todo o corpo de uma instituição.

A atenção também permite uma melhoria na comunicabilidade de um grupo. Não adianta que realizamos um bom trabalho ou sejamos cheios de grandes talentos. É necessário entender como nosso trabalho e nosso talento será lido pela comunidade. Isso é fundamental principalmente para quem trabalha com comunicação e marketing. Todo ato de comunicação exige um esforço para se colocar no lugar do outro para presumir como a nossa audiência irá ler o que estamos comunicando. Esse é o ato próprio da atenção: colocar-se no lugar do outro e refletir como será o impacto de nossas ações e palavras. Não basta usar as palavras certas, é necessário usá-las do jeito certo. Muitos comunicadores focam em um aspecto muito superficial do seu trabalho.

Conforme descreve o filósofo Olavo de Carvalho, a comunicação é dividida em três patamares: o signo, o referente e o significado. A maior parte dos profissionais de comunicação foca apenas no significado, ou seja, apenas no que as palavras significam. Eles esquecem os outros patamares da comunicação. De acordo com Olavo de Carvalho, os conceitos de signo, referente e significado são partes fundamentais da semiótica e da compreensão da linguagem. Aqui está uma explicação simplificada desses conceitos conforme sua abordagem:

Signo:

Um signo é qualquer coisa que representa algo para alguém. Pode ser uma palavra, uma imagem, um gesto, entre outros. Os signos são fundamentais para a comunicação humana, pois nos permitem transmitir e receber informações. Os signos são arbitrários, ou seja, não têm uma relação direta e necessária com seus significados. Por exemplo, a palavra “cachorro” é apenas uma sequência de letras, mas para falantes da língua portuguesa, ela representa o animal de quatro patas.

Referente:

O referente é aquilo para o qual o signo aponta ou representa. É o objeto, conceito ou entidade ao qual o signo se refere.Por exemplo, no caso da palavra “cachorro”, o referente é o animal de quatro patas que conhecemos. Em muitos casos, o referente não é diretamente acessível ao observador e pode ser objeto de interpretação e debate.

Significado:

O significado de um signo é a interpretação ou compreensão que lhe é atribuída. É o sentido que o signo carrega para quem o percebe. Por exemplo, quando alguém vê a palavra “cachorro”, ela evoca a imagem mental do animal e todas as associações que essa palavra pode ter para essa pessoa. O significado não é fixo ou universal, mas sim construído social e culturalmente. O mesmo signo pode ter significados diferentes para pessoas diferentes ou em contextos diferentes.

Isso tudo tem um sentido muito profundo. Atenção é quando dedicamos o nosso tempo com todas as nossas forças. Quando colocamos tudo de si em uma tarefa compreendendo como aquilo afeta ao próximo e a toda a comunidade. Essa atitude é a atitude própria do amor. A atenção permite colocarmo-nos no lugar do outro refletindo sobre como seria o melhor trabalho realizado pelo próximo. A atenção é a antessala do amor. E os frutos do amor — e, portanto, da atenção — são o fundamento de qualquer empreendimento bem sucedido. São os frutos descritos nas Escrituras na Epístola de Galatas: “alegria, paz, paciência, afabilidade, bondade, fidelidade, brandura e temperança.”

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Matheus Bazzo

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